sábado, 7 de abril de 2012

Finalment... ( parte 3 )

1 ano. foi o tempo que demorei a apaga-lo finalmente da minha cabeça. realmente o tempo tudo cura e no meu caso foi isso que aconteceu. passou um ano e o Gustavo já não fazia parte da minha cabeça..do meu coração. voltei a vê-lo algumas vezes depois daquele triste episódio com a Mafalda (cabra), mas já não queria saber.

levantei-me da cama e calcei os chinelos, fui tomar o meu banho e comer o meu adorado pequeno almoço, afinal hoje era um grande dia. depois da minha rotina matinal fui buscar a bicicleta. Ia ter com ele... e quem é ele perguntam vocês..ahahah.. o seu nome é Salvador (nome apropriado).. e pode-se dizer que me salvou. têm olhos castanhos e cabelo ruivo, uma mistura estranha se querem que vos diga, mas eu adoro. possui as sardas mais fofinhas que já vi, mas não era bem isto que queriam saber não é? o Salvador foi aquela luz ao fundo do túnel que apareceu quando eu não estava a espera..
um mês depois daquele encontro com o Gustavo e com a Mafalda, tive de ser internada no hospital. o facto de ter deixado de comer assustou a minha família, eu tinha desenvolvido uma doença.. anorexia e estava um caco. e onde aparece o Salvador no meio disto tudo? a irmã mais nova era minha companheira de quarto no hospital. eu já lá estava a umas semanas e já tinha recuperado algum do peso que tinha perdido, mas ainda não podia sair, por isso decidi meter conversa com ela. chamava-se Bárbara e tinha 14 anos e basicamente o mesmo problema que eu. contou-me a sua história e tornámo-nos amigas. claro que depois eu descobri que ela tinha um irmão.

não vou esquecer o dia em que o vi. lembro-me que a minha mãe me tinha trazido um ramo de junquilhos, a minha flor preferida.. continuando, a Bárbara estava contentíssima, ia receber a visita do irmão e até eu estava ansiosa, ouvia falar tanto nele que sentia que já o conhecia.
eram 16 horas quando ele entrou pela porta do nosso quarto e sinceramente o meu queixo caiu. literalmente, caiu.. ele era uma visão por assim dizer. e eu já não olhava para um rapaz assim desde o Gustavo...

- boa tarde - disse.
- bo-a-a tar-de-de - gaguejei.

boa Raquel, não queres parecer mais patética?!

- Olá ranhoso - disse Bárbara.
- Então pirralha como estás?
- Bem e tu?
- Também.

Bárbara já tinha captado a minha patetice e claro que reparou na maneira como eu o olhava.

- Salvador, esta é a Raquel a minha companheira de quarto .

olhei para ela e um sorriso maroto estava presente nos sues lábios..

- Olá - disse ele.
- Hey - respondi eu.
- Então é muito difícil aturar a minha irmã? - perguntou.
- Claro que não. Ela é uma querida - respondi.
- Uiii, que lavagem cerebral fizeste a miúda que ela diz que tu és uma querida? - gozou ele.
- Deves de pensar, eu sou uma querida sim? Ao contrário de ti que és um chato - respondeu ela.
- Cala-te que tu gostas de mim assim maninha!
- Convencido -.-

e eu pensava, credo que eles tratam-se tão bem..

- Oh Raquel não fiques com essa cara que nós somos mesmo assim uma para o outro - disse-me ela.
- Eu ? Cara? Nada, nada. Ele até têm uma certa razão.. - disse eu
- Razão?! - disseram os dois em uníssono.
- Sim! Ás vezes és difícil de aturar - gozei eu.
- Ahahahaha vês até ela já percebe o que eu sofro - disse Salvador.
- Podes esquecer a minha gelatina do almoço.. não te dou mais - disse Bárbara.
- Oh, não fiques assim, a maior parte do tempo és bastante aturável - disse eu.

e a conversa continuou até ao final da hora das visitas. ele era realmente uma coisa do outro mundo, talvez por isso o meu coração tenha batido um bocadinho mais depressa desde que ele chegou até se ter ido embora. claro que fiquei ansiosa até à próxima visita dele o que não tardou a acontecer, uma vez, outra e outra, até que ele começou lá a passar praticamente os dias todos connosco. fomos desenvolvendo os 3 uma amizade muito forte durante aquelas 3 semanas.

eu e Bárbara saímos do hospital com uma semana de diferença, ela saio primeiro que eu. eles continuaram a visitar-me até ao dia em que eu sai. lembro-me que da minha mãe me dizer que parecia uma pessoa diferente no dia em que me foi buscar eu disse-lhe que sim, que a Raquel que entrou naquele hospital não era a mesma que ia sair e que agora ia seguir a minha vida e ser feliz. de facto isso aconteceu.

eu, a Bárbara e o Salvador tornámo-nos inseparáveis, claro que só mais tarde descobri que ele andava na mesma escola que eu, por isso passamos a estar aos intervalos juntos. e como já deviam de estar a espera a minha amizade e a dele desenvolveu para uma coisa mais forte e começamos a namorar. claro que Bárbara ficou contentíssima, ela tal como eu tinha saído do hospital uma pessoa diferente, um pouco mais adulta para a idade que tinha.

o Salvador esteve presente em todas as pequenas recaídas que tive, tal como ambos estivemos presentes nas recaídas de Bárbara. a anorexia é uma doença complicada. tanto eu como Bárbara sofríamos com ela, mas com o tempo tudo foi ficando melhor. eu e ela tinha-mos prometido uma a outra, a nós próprias e a Salvador de que ia-mos ser fortes e ultrapassar aquilo tudo e consegui-mos.
e cá estou eu agora. pedalando na bicicleta para ir com o meu namorado e com a minha cunhada. o Salvador tornou-se uma parte importante da minha vida bem como Bárbara. já namoramos a 5 meses e eu estou feliz.

cheguei ao jardim e já os tinha a minha espera. cumprimentei Salvador com um beijo super fofo e dei um beijinho na bochecha de Bárbara.

- trolha, estava a ver que nunca mais chegavas. estamos a espera há pargas de tempo - disse Bárbara.
- um bocado exagerada não? -respondi eu.
- agora que penso nisso, ela têm razão. demoras-te bué - disse Salvador.
- credooo.. tinha-mos combinado as 10h e meia, são 10h e 45min. - disse eu.
- oh amor, sabes que sem ti o tempo voa mais depressa - disse Salvador.
- okei.. nojo..não digas essas coisas a minha frente por favor. o pequeno almoço soube-me bem demais para o ir vomitar - exclamou Bárbara.
- há-de chegar o teu dia tontinha, não te esqueças, e depois ai quem goza somos nós - trocei eu.
fomos os 3 beber um café a uma esplanada e Salvador foi buscar o jornal. acendi um cigarro e pus-me a conversa com Bárbara.
- estes gajos metem-me nojo!! - exclamou Salvador irritadíssimo.
eu e bárbara mandamos um salto da cadeira.
- que se passa amor?! - perguntei eu.
- olha para esta noticia - apontou para o jornal.

lembro-me que li em voz alta mas que ao principio até nem liguei muito a noticia em si.
- " rapariga de 17 anos dá entrada no hospital após violação - li o titulo em voz alta - "encontrada perto de uma fábrica pelo guarda nocturno. Este diz que por volta da 1h da manha de ontem andava a fazer a sua ronda quando se apercebeu que alguém gritava por socorro. quando lá chegou deparou-se com a miúda ensanguentada e praticamente sem roupa e viu uma pessoa a fugir ao longe. apressou-se e alertou logo o INEM e a Policia que chegou ao local e tomou conta da ocorrência. a rapariga apresentava graves lesões no rosto, nas pernas e nos braços pelo que aparentava ter sido espancada. ainda não se sabe ao certo o que aconteceu, mas aponta-se para uma violação. Pede-se a quem tenha alguma informação que contacte a policia - acabei de ler.

- coitada - disse Bárbara.
- estes filhos da p... ! não têm respeito por ninguém! - disse Salvador.
- oh amor tem calma! - disse eu.
- Raquel como é que queres que tenha calma?! Imagina que tinhas sido tu ou a Bárbara? Eu..eu não sei o que faria - respondeu-me ele.
- pois eu percebo amor, mas não foi nenhuma das duas. Estamos ambas bem! - tranquilizei-o.

o ambiente ficou de cortar a faca.
- não têm nenhuma foto da rapariga no jornal? - perguntou Bárbara.
- por acaso não reparei.. deixa cá ver - disse eu.

quando olhei para a foto as lágrima vieram-me aos olhos. não podia, não era.. impossível. a rapariga da foto era a Mafalda !


(FIM DA 3ª PARTE)

Um comentário:

Pedacinhos de mim disse...

Uau que história bonita, quando referes um ano, um ano para apagar alguém da cabeça acredito e do coração? Será que um ano apaga tudo? Certamente não, fica a recordação mas ao mesmo tempo consegue se lidar bem melhor com a falta, ou arranjado outra ocupação, ou vivendo outro amor. Gostei muito. Um Beijo :)*